Os novos luxos.

Responda rápido: se lhe dessem a escolher a diferença do luxo ou o luxo da diferença qual seria a sua eleição?

Gilles Lipovettsky, no seu mais recente livro O luxo eterno – da idade do sagrado ao tempo das marcas, afirma que hoje em dia “ a paixão pelo luxo não é exclusivamente alimentada pelo desejo de ser admirado(…)”, é também reflexo do “desejo de se admirar a si mesmo, de ter prazer de si mesmo e de uma imagem elitista”.

E se é assim, então o dilema que coloco nas primeiras linhas será cada vez mais premente, já que encerra a contenda entre o luxo contemplado e o luxo experimentado, entre um snobismo que algures se sente altruísta e um narcisismo snob que os tempos modernos aceitam e até sublimam.

Antigamente o luxo ganhava honorabilidade e influência, porque era reflexo de alguém com abundância de metais preciosos, gado, terras, ou até esposas e filhos, algo que  poucos conseguiam e, por isso, os dignificava, protegia e aproximava dos deuses, garantido reconhecimento junto dos seus pares terrenos. Agora, uma nova dimensão do EU idolatra a opção de ser diferente porque sim, e fazendo disso um luxo. 

Num mundo cada vez mais pequeno e monótono, de modas igualitárias e gadgets universais, é na ousadia de ser invulgar que se estabelecem algumas formas modernas de luxo. E mesmo quando o invulgar é um retorno à vulgar das tradições da cozinha da avó ou do cultivo de um pedaço de terra num pais distante, a busca mais preciosa do novo luxo é precisamente essa alegria de aceder à diferença, fazendo-se luxo do que, sendo simples, ganha o valor incomensurável de ter sido escolhido por si, para si e para o seu bem.

Li há dias que um hotel de luxo nos Emirados Árabes Unidos proporciona aos seus clientes a aventura de um mergulho para caçar ostras produtoras de pérolas. E das pérolas colhidas por cada hóspede fazem um colar que, depois, lhes é oferecido. Eis a prova desta contradição que define o luxo moderno: o luxo da relação afetiva com os bens, das sensações únicas, das emoções, em contraposição com luxo da ostentação social e da imagem pública. Isto sim é luxo da diferença! 

Os priceless de hoje são momentos únicos e quase inusitados que vivemos como crianças acabadas de aprender a andar de bicicleta. Provas de amor que damos a nós próprios e que, mais do que uma afirmação social, refletem uma escolha consciente de sensações individuais. O luxo é cada vez mais a expressão do amor pela nossa própria originalidade, sem convenções nem obrigações – um luxo livre, como o amor deve ser, simples e único, como o melhor dos amores. E assim, se tiver de escolher entre a diferença do luxo ou o luxo da diferença, será mais fácil pois, se não há dois amores iguais, então o luxo da diferença é mesmo isso – uma invenção dos apaixonados.

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